quarta-feira, 24 de setembro de 2008

...presos, agora visitantes, depois hóspedes...

Eu nunca estive em nenhuma Pousada de Portugal, e tu!? No entanto, já estive em muitos castelos, fortalezas, conventos e igrejas... Na maior parte delas, tive até o privilégio de contactar com história e arte, e vim de lá mais culta e contente!
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Um dos fortes que visitei, foi precisamente o visado na notícia que aqui quero comentar, falo do Forte de Peniche, que funcionou como prisão desde o séc.XIX até 1974 (albergando muitos presos políticos no tempo da ditadura de Salazar)... Não fiquei desapontada com o vazio e a adulteração como fiquei na Fortaleza de Sagres, que me fez escrever o artigo "...fraca fortaleza...".
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No Forte de Peniche funciona efectivamente o Museu Municipal de Peniche, mantendo-se minimamente conservadas e abertas ao público, salas e celas que nos permitem ter uma ideia daquela que era a realidade enquanto prisão. Além disso, algumas exposições demonstram também o que foi a luta e o sofrimento de muitos homens e mulheres, que dispostos a abdicar da sua vida pessoal, familiar e da segurança física, procuravam restituir alguma dignidade a este país...
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Agora, anuncia-se a assinatura do protocolo que visa a transformação do Forte em mais uma Pousada de Portugal (FONTE: OESTE ONLINE; VISÃO)... E eu fico triste e preocupada! É que esta parece-me mais uma daquelas acções que retiram património acessível a quase todos, para satisfazer apenas alguns, disponíveis para pagar a sua estadia nesse espaço, com direito a luxo (ou charme, como agora gostam de chamar) e mordomias...
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Deixem-me dizer-vos que, por exemplo, o Castelo de Óbidos (que é dos tais que só conheço por fora), foi adaptado para uma oferta hoteleira de apenas 9 quartos e um restaurante. Presumo ter tarifas bem acima do valor suportado pela maioria dos bolsos (quarto duplo: entre €190 e €320 por noite » FONTE)...
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Lá está, admito que os valores avultados dos custos de recuperação e manutenção destes espaços, sejam assim compensados com um volume de receitas condizente (muito embora tenha ideia, que com uma boa gestão dos dinheiros públicos, não era preciso chegar a esse ponto)... O que eu não quero admitir, é que os espaços fiquem vedados aos visitantes que apenas querem conhecer e saber mais... Espero que, o Arq. Siza Vieira (responsável pelo projecto de arquitectura), bem como as equipas especializadas nesta e outras "requalificações", não se esqueçam de mim, dos meus eventuais descendentes e daqueles que, como nós, poderão não querer mais do que uma tarde ou uma manhã a passear pelos espaços que são património nacional, com acesso à informação neles retida e proporcionada...
MDC

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