quarta-feira, 3 de setembro de 2008

...fraca fortaleza...



Acho que andava na 3.ª classe quando conheci a Fortaleza de Sagres! Foi a primeira vez que saí da alçada da minha família para passar, acho que, 4 dias num passeio/visita de estudo!
Estaríamos para aí em 1987, não sei... O que sei é que, tive o privilégio inesquecível de dormir dentro da fortaleza, naquelas que eram as "casas da correnteza"... De fazer jogos numa sala digna do Infante D. Henrique! Lembro-me dos professores nos terem falado da geração de navegadores quinhentista que ali teria eventualmente estudado! Sentimo-nos pequeninos como éramos, grandes herdeiros desse poder de aprendizagem para descobrir e mudar o mundo!
Estas férias passei por lá, antes de chegar ía cheia de expectativas para recordar esses mágicos tempos! Dificilmente a desilusão podia ser maior...

Supostamente "a Fortaleza de Sagres encontra-se aberta diáriamente ao público. Além de se poder apreciar as estruturas anteriores ao século XVIII, recuperadas, modernas intervenções permitem visitar as diversas áreas do promontório, podendo usufruir ainda de um centro de exposições, um centro de mulimédia, lojas de artigos culturais e de uma cafetaria."

Os edifícios onde dormi nos anos 80 estão irreconhecíveis, as novas estruturas são outra coisa... (graças ao inventário da extinta DGEMN, actualmente gerido pelo Institudo da Habitação e da Reabilitação Urbana, encontrei os desenhos do edifício original, para confirmar as minhas recordações)

A mítica escola de navegadores sumiu! Até aceitaria estes factos, se comprovassem que os novos tempos requereram estas novas estruturas para que a Fortaleza continuasse a ser vivida! Mas não... O pior de tudo é que está quase tudo fechado, aparentemente há muito tempo!

De uma das poucas portas abertas do complexo vem o som da caixa registadora (da venda de souvenirs), a outra dá acesso a uma pequena sala com máquinas de sumos e sandes, está lá um senhor para ajudar com os gelados! E pronto...

Tive vergonha, havia turistas estrangeiros a deambular pelo meio do vento forte, expostos aquela tristeza desconfortável onde a poesia mesmo assim, fica a dever ao nosso fado!

Um amigo contou-me que muitas pessoas vão para as imediações da fortaleza assistir ao pôr-do-Sol, que ali é extraordinário... Ficou encantado quando, após a última chama a desaparecer no mar, a multidão espalhada nas rochas desatou a bater palmas! Valha-nos esta poesia, nascida do sal, da pimenta e da canela que nos corre nas veias... Valham-nos os têmperos para salvar estes cozinhados mal amanhados que às vezes aparecem por aí...

(ah... e claro... quem é que pagou aquela intervenção de milhões!? Claro que fui eu e tu... como sempre!)

+ info sobre a Fortaleza de Sagres ::: na Wikipedia no IHRU (colocar PT050815040001 no n.ºIPA e pesquisar)


MDC

1 comentários:

Catarina Cavaleiro disse...

..e triste nao e? e pensar que existem milhares de infraestruturas assim, por todo o mundo, que contam as historias de outros tempos, as nossas historias, e que sao deixadas ao abadono, ao esquecimento!
sera que um dia esqueceremos o passado, a historia, de quem somos e de onde vimos? sera que cada um de nos ainda encerra em si o conhecimento que nos trouxe ate aqui? e bom que pensemos nisso!! que o discutamos e partilhemos com os amigos! *