sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Romance de Diogo Soares, de Fausto Bordalo Dias

Chego a arrepiar-me de extremo contentamento, porque hoje vou ver o Fausto ao vivo e a cores em concerto! Não sou pessoa de fanatismos ou de grandes idolatrias... Mas o Fausto.... a música, a voz, a poesia... extasia-me, extravasa-me e posso dizer que admiro muito, mas mesmo muito o trabalho dele! E até é curioso, porque havendo muitas e boas razões para esta minha admiração, eu sinto-a como mais inexplicável do que racional, mais mágica do que técnica! Deixo um dos meus temas preferidos... Porque é um dos meus preferidos!? A verdade é que não sei... E quanto menos sei, mais gosto...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Deus da Matança, de Yasmina Reza

Esta posso recomendar porque estará em cena até 25 de Outubro no Teatro Aberto! E vale bem a pena... no mínimo desconcertante!
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Tive a sorte de em 1998 ver a peça "Arte", extraordinariamente protagonizada por António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme. Fiquei fascinada com o texto desta autora francesa, a Yasmina Reza. A "Arte" são intensas conversas em torno de uma tela pintada de branco e da opção de uma das personagens ao adquiri-la. O melhor é a carga cómica, que no fundo, e porque chega ao fundo, é intensamente dramática. Para mim, uma referência, um dos melhores textos de teatro que conheço.
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Desta vez a base de conversa é a violência, a agressão... E a intensidade está lá outra vez, levada ao extremo, despindo as personagens por camadas até ao osso, até se dizer tudo e se enfrentar o absurdo do que somos quando retiramos todas as máscaras sociais. Mas não estará esse absurdo, por ventura colado à nossa autenticidade!?
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Do trabalho dos actores, que encontrei muito conseguido, sobressaiu para mim, o do único desconhecido, Sérgio Praia... Um espectáculo a ver, uma autora, sem dúvida, a seguir...
quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Camareiro, de Ronald Hardwood



Fui ontem ver ao Teatro Dona Maria II... Não me/vos serve de muito o conselho agora, uma vez que a lotação está já esgotada até ao último espectáculo... Mas quero partilhar na mesma que fiquei abismada pelo positiva com a prestação de Virgílio Castelo (percebi depois que muito por ignorância minha... porque nunca o tinha visto representar num palco!) O Ruy de Carvalho, apresenta-se surpreendentemente enérgico como um duplo senhor do teatro, na personagem e na própria vida...
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O que mais me impressionou foi mesmo a história deste camareiro (interpretado por Virgílio), que segurando a espinha dorsal da vida deste actor (Sir Donald Wolfit interpretado por Ruy) é ignorado, porque não faz mais que a sua obrigação. O esforço sobrehumano a que se sujeita, anulando-se a si próprio e às suas vontades para satisfazer os caprichos e as necessidades de outro. E essa anulação, este viver em prol de outrém, torna a personagem transparente e, porque ninguém o vê, vive só... Deu-me que pensar e até que sentir!
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Curiosamente, Ronald Harwood, o autor, terá sido camareiro de Sir Donald Wolfit, que dá nome à personagem feita pelo Ruy de Carvalho... Também é argumentista d"O Pianista", um filme que também gostei muito, pela forma incrível como demonstra que um herói, pode ser natural, sendo afinal um antiherói, apenas (sendo este um apenas bem cheio de tudo) um desesperado em luta pela sobrevivência...
mdc
segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Soneto do Trabalho

foto de Sebastião Salgado

Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas

não se abre a liberdade com gazuas
á força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante,
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-te meu povo. Não é tarde.

Agora é que o mar canta é que o sol arde
,
pois quando o povo acorda é sempre cedo!

um poema de José Carlos Ary dos Santos
in reportagem no Ciência Hoje
A angústia do condenado perante a morte
A Fé na literatura para desfazer a infidelidade bíblica - Artes - DN

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sábado, 17 de outubro de 2009

Bossanova com sotaque

Diana Krall, a diva do jazz, lançou o seu último trabalho "Quiet Nights" no qual se encontram alguns temas de Tom Jobim. Divinal..."Este seu olhar"...
sexta-feira, 16 de outubro de 2009

parte do discurso de Barack Obama sobre a Palestina

Ainda existem muitas indefinições quanto ao futuro e quanto há determinação de Obama. O Mundo tem os olhos postos em todos os seus passos, em todas as suas decisões. Quanto ao Nobel da Paz, terá sido precipitado?...talvez...o que é certo é que existe esperança. Esperança na mudança.

... parte do discurso de Barack Obama que se refere à questão palestiniana...

"...
A segunda grande fonte de tensão que temos de discutir é a situação entre israelitas, palestinos e o mundo árabe.

Os estreitos laços dos Estados Unidos e Israel são bem conhecidas. Esta ligação é inquebrável. Baseia-se em laços históricos e culturais, bem como no reconhecimento de que a aspiração por uma Pátria judia está enraizada numa trágica história, que não pode ser negada.

Em todo o mundo, os judeus foram perseguidos durante séculos, e o anti-semitismo na Europa levou a algo nunca visto: o Holocausto. Amanhã, visitarei Buchenwald, que fez parte de uma série de campos onde os judeus foram escravizados, torturados, baleados e gaseados até à morte pelo Terceiro Reich. Seis milhões de judeus foram aniquilados, mais do que toda a actual população judaica de Israel. Negar essa realidade é ilegítimo, é ignorante e é odioso. Ameaçar Israel com a destruição - ou repetir estereótipos abjectos sobre os judeus - é profundamente errado e só servem para suscitar nos israelitas as mais dolorosas memórias e, ao mesmo tempo, impedir a paz que os povos da região merecem.

Por outro lado, também é inegável que o povo palestiniano - muçulmanos e cristãos - também sofreu na busca por uma pátria. Durante mais de sessenta anos, sofreu a dor de estarem desalojados. Muitos aguardam em campos de refugiados na Cisjordânia, Gaza e em terras vizinhas, uma vida de paz e segurança que nunca conseguiram ter. Sofreram humilhações quotidianas - grandes e pequenas - decorrentes da ocupação. Então, que não haja dúvidas: A situação para o povo palestino é intolerável. E os Estados Unidos não vão voltar as costas às legítimas aspirações palestinas de dignidade, oportunidade e de um estado seu.

Durante décadas, tem existido um impasse: dois povos com legítimas aspirações, cada um com uma dolorosa história, o que torna os compromissos difíceis. É fácil atribuir a culpa – para os palestinos a deslocação, como resultado da fundação de Israel, e para os israelitas a constante hostilidade e os ataques realizados, ao longo da sua história, dentro e fora das suas fronteiras. Mas se olharmos o conflito a partir de apenas um dos lados ou do outro, então estaremos cegos à verdade: a única solução para as aspirações de ambas as partes será encontrada através de dois estados, em que israelitas e palestinos vivam em paz e a segurança.

É do interesse de Israel, é do interesse da Palestina, é do interesse dos Estados Unidos e do interesse do mundo inteiro. É por isso que eu pretendo prosseguir pessoalmente este resultado com toda a paciência e dedicação que a tarefa exige. As obrigações – as obrigações que as partes acordaram no Roteiro são claras. Para alcançar a paz, é tempo para eles - e para todos nós – cumprirmos com as nossas responsabilidades.

Os palestinos devem desistir da violência. A resistência através da violência e da matança é errado e não terá êxito. Durante séculos, os negros nos Estados Unidos sofreram o açoite do chicote como escravos e a humilhação da segregação. Mas não foi a violência que conquistou a plena igualdade de direitos. Foi uma pacífica e resoluta perseverança nos ideais centrais dos fundamentos dos Estados Unidos. A mesma história pode ser contada pelos povos da África do Sul ao Sul da Ásia; da Europa Oriental à Indonésia. É uma história com uma verdade muito simples: que a violência é um beco sem saída. Não é sinal nem de coragem nem de força lançar foguetes contra crianças dormindo, ou fazer explodir velhotas num autocarro. Não é assim que se reivindica a autoridade moral; é assim que a ela se renúncia.

Este é o momento em que os palestinos se deveriam concentrar naquilo que podem construir. A Autoridade Palestiniana deverá desenvolver a sua capacidade de governar, com instituições que respondam às necessidades de seu povo. O Hamas tem apoio entre alguns palestinos, mas também tem de reconhecer que tem responsabilidades. Para desempenhar um papel na realização das aspirações dos palestinos, para unir o povo palestino, o Hamas tem de pôr um fim à violência, reconhecer acordos passados e reconhecer o direito de Israel a existir.

Ao mesmo tempo, Israel deve reconhecer que, tal como não lhe pode ser negado o direito de existir, o mesmo se deve aplicar à Palestina. Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade da contínua colonização israelita. Esta actividade viola acordos anteriores e compromete os esforços para alcançar a paz. É tempo para essa colonização parar.

E Israel também tem de cumprir as suas obrigações para garantir que os palestinos possam viver, trabalhar e desenvolver a sua sociedade. Da mesma maneira que é devastador para as famílias palestinas, a continuidade da crise humanitária na Faixa de Gaza, esta não contribui para a segurança de Israel; nem de igual modo, a continuada a falta de oportunidades na Cisjordânia. Os progressos na vida quotidiana do povo palestino devem ser uma parte crítica do caminho para a paz, e Israel deve tomar medidas concretas para permitir esse avanço.

Por último, os Estados árabes devem reconhecer que a Iniciativa Árabe de Paz foi um importante ponto de partida, mas não o fim das suas responsabilidades. O conflito árabo-israelita não deveria ser usado para distrair as pessoas dos países árabes da existência de outros problemas. Pelo contrário, deve ser uma razão para agir ajudando o povo palestino a desenvolver as instituições que irão suster o seu Estado, reconhecendo a legitimidade de Israel, e escolhendo o progresso e não uma contraproducente concentração sobre o passado.

Os Estados Unidos irão alinhar as suas políticas, com aqueles que procuram a paz, e devemos dizer em público aquilo que dizemos em privado aos israelitas, aos palestinianos e aos árabes. Não podemos impor a paz. Mas, privadamente, muitos muçulmanos reconhecem que Israel não vai desaparecer. Da mesma forma que muitos israelitas reconhecem a necessidade de um Estado palestino. É tempo de agirmos com base naquilo que todos sabemos que é verdade.

Demasiadas lágrimas têm sido derramadas. Demasiado sangue foi derramado. Todos temos a responsabilidade de trabalhar para o dia em que as mães dos israelitas e dos palestinos possam ver seus filhos crescer sem medo; quando a Terra Santa das três grandes religiões for o lugar de paz que Deus planeou que fosse; quando Jerusalém for um seguro e duradouro lar para Judeus, Cristãos e Muçulmanos e um lugar onde todos os filhos de Abraão confraternizem pacificamente como na história da Isra [1], quando Moisés, Jesus e Maomé, que a paz esteja com eles, se juntaram para rezar.…”

[1] A Isra, viagem nocturna, refere-se à viagem que, numa só noite, o profeta Maomé realizou de Meca a Jerusalém e depois ao paraíso e aos infernos.

este texto foi retirado do blog "Fórum Palestina"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um poema de José Saramago

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um poema de Eugénio de Andrade

Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.

Tinham lendas e mitos

e frio no coração.

Tinham jardins onde a lua passeava

de mãos dadas com a água

e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente

o milagre de cada dia

escorrendo pelos telhados;

e olhos de oiro

onde ardiam

os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,

e silêncio

à roda dos seus passos.

Mas a cada gesto que faziam

um pássaro nascia dos seus dedos

e deslumbrado penetrava nos espaços.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Babel

Finalmente vi, estreado em 2006, de Alejandro González Iñárritu... Adorei a banda sonora e a fotografia! O argumento usa a fórmula da Magnolia ou do fabuloso Crash, mas põe em evidência a influência dos conflitos internacionais na vida individual, que segue alheia, mas acaba prejudicada! Achei alguns aspectos do dramalhão um bocado forçados... Ainda assim, há sequências absolutamente extraordinárias que compensam!
mdc