"A capa contém uma réplica em mármore da escultura “Madonna della Scala”, (...) realizada com mármore do proveniente da mesma pedreira, Il Polvaccio (...) O veludo de seda que cobre a capa foi confeccionado em teares antigos, capazes de produzir apenas oito centímetros de tecido por dia. O luxuoso papel, em puro algodão, é produzido à mão, fibra por fibra. A encadernação também é toda feita à mão e costurada página a página."
É que hoje percebi porque é que este poema sempre me encantou... De facto, à luz dos nossos dias há "luxos" e "preciosidades" que passaram a ser caricatos, mesmo engraçados! Ainda assim, permanecem, mas parece-me natural, a emancipação da humanidade tem demorado milhares de anos e ainda tem um longo caminho a percorrer...Filipe II
tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro
com pedras rubis.
Cingia a cintura
com cinto de oiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
-
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
-
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
-
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.
-
Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,safiras, topázios,
rubis, ametistas.
-
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho-éclair.
-
António Gedeão
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