quinta-feira, 10 de setembro de 2009

11 de Setembro de 1973

11 de Setembro.

Actualmente a data é conotada com os atentados terroristas às duas torres gémeas de Nova Iorque, há oito anos atrás. Foi muito dramático, triste, doloroso. Sim, é certo. Os inocentes que morreram naquele dia são as vítimas do seu próprio sistema, e que pagaram com a própria vida os erros, que os seus sucessivos governos praticam, há décadas. Pela guerra, pela invasão e pelo terror, que submetem os outros povos.

Há 36 anos, a 11 de Setembro de 1973, com o apoio dos EUA e o seu presidente Gerald Ford, com a colaboração da CIA e de algumas multinacionais, Augusto Pinochet ordenou às Forças Armadas, praticarem um golpe de estado violento e sangrento, que derrubou o governo socialista, democraticamente eleito de Salvador Allende. Naquela manhã, onde se encontrava exilado no Palácio de La Moneda, pela rádio transmitiu as suas últimas palavras destinadas ao seu povo:
"Pagarei com a minha vida a lealdade do povo."

O que se sucedeu, foi dantesco. O povo chileno foi perseguido, torturado, massacrado. O estádio do Chile foi transformado num campo de concentração. Entre muitos encontrava-se Victor Jara. Conta-se que foi torturado durante quatro dias. Nesses dias ainda conseguiu escrever a ultima canção, escondida pelos seus companheiros:

Somos cinco mil
en esta pequeña parte de la ciudad
Somos cinco mil
Cuántos seremos en total
en las ciudades y en todo el país?
Sólo aquí, diez mil manos que siembran
y hacen andar las fábricas.

Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!

Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.

Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.
Los otros cuatro quisieron quitarse todos los temores
uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.

Qué espanto causa el rostro del fascismo!
Llevan a cabo sus planes con precisión artera
sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.
Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
Para esto tus siete días de asombro y de trabajo?
En estas cuatro murallas sólo existe un número
que no progresa,
que lentamente querrá más la muerte.

Pero de pronto me golpea la conciencia
y veo esta marea sin latido,
pero con el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona
lleno de dulzura.

Y México, Cuba y el mundo?
Que griten esta ignominia!
Somos diez mil manos menos
que no producen.
Cuántos somos en toda la Patria?
La sangre del compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.

Canto que mal me sales
cuando tengo que cantar espanto!
Espanto como el que vivo
como el que muero, espanto.
De verme entre tanto y tantos
momento del infinito
en que el silencio y el grito
son las metas de este canto.
Lo que veo nunca vi,
lo que he sentido y lo que siento
hará brotar el momento...

Os relatos de presos presentes no estádio, contam que o cantor teve as mãos quebradas durante as sessões de tortura. No seu último fôlego e sob tortura Jara pôs-se de pé e cantou o hino da Unidade Popular “Venceremos” :
(…)
Venceremos, venceremos,
Mil cadenas habrá que romper,
Venceremos, venceremos,
La miseria sabremos vencer.

Campesinos, soldados, mineros
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.

Sembraremos las tierras de gloria,
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)

Um ano mais tarde, após o golpe militar, o presidente Gerald Ford declarou à imprensa que aquilo os Estados Unidos fizeram no Chile "...foi nos melhores interesses do Povo chileno e certamente nos nossos melhores interesses". ...duvido muito pelos interesses do povo chileno, não duvido nada pelos interesses dos EUA.

***

Na pesquisa que fiz encontrei um poema que foi dedicado ao cantor Victor Jara. Eu pessoalmente não conheço o autor, mas é muito bonito:

CANTO PARA AS MÃOS PARTIDAS DE VICTOR JARA
por Pedro Tierra

Quisera chorar teus dedos dilacerados:
raízes do meu canto subterrâneo.
Quisera chamar-te ?Hermano?
como a infância dos rios
lava o rosto da terra,
mas minha boca sangrava
um silêncio de canções amordaçadas.

De tuas mãos se dirá um dia:

geravam pássaros de sangue
como as primaveras da lua.
Tuas mãos,
tristes descendentes das canções araucanas,
tuas mãos mortas,
casa de canções decepadas,
tuas mãos rotas,
últimas filhas do vento,
guitarras enterradas sem canto,
sementes de fuzis,
seara de sangue.

Quisera entregar

minhas mãos inúteis
ao cepo de teus carrascos.

No Chile, com a ditadura de Pinochet, o povo chileno, viveu longos anos de perseguições, de desaparecimentos, de massacres, de ditadura.
Pretendo com estas linhas apenas relembrar. Para que não se esqueça, para que não se volte a repetir! O Mundo não se pode esquecer.

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