quinta-feira, 8 de março de 2012

Consideração


Aquilo que aspiramos que sintam por nós… por sermos seres humanos em primeiro lugar, por amarmos e por nos dedicarmos a alguém incondicionalmente sem querer outra coisa em troca senão…consideração. Porque importamos, porque fazemos parte de um todo, porque no mundo que criamos à nossa volta todos importam, incluindo nós, e que por vezes os outros importam mais que nós e outras vezes somos nós que importamos mais… e porque é assim que acontece quando se ama, porque damos muito e aspiramos que nos dêem algo também considerando…que é assim o Amor. E porque considerando que se ama, as lágrimas de quem se ama são também as nossas, as dores também, as angustias, as alegrias, os sonhos e as partilhas…isto claro, considerando a consideração que se tem por quem se ama…
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Better Days

A vida é feita de pequenos nadas. E o segredo é fazer desses pequenos nadas, grandes feitos, momentos especiais e inesquecíveis.
Todos os momentos bons e maus, fazem parte daquilo que somos e no que nos transforma ao longo do tempo. E é neste percurso que crescemos e fazemos escolhas traçamos caminhos e tomamos atitudes perante as pessoas e a vida.
Apenas o que quero dizer é que as relações humanas estão longe de ser fáceis, e que na nossa condição de humanos sofremos e pronto. Mas também temos a capacidade mágica de poder transformar esses momentos, essas relações para melhor, fazer o bem, respeitar o próximo respeitando-nos a nós próprios, não nos esquecendo de quem somos. O Amor, a Amizade, a partilha e o conhecimento são a essência para o conhecimento do nosso eu.
Já passei por tormentos, já passei por momentos inesquecíveis, já chorei, já sorri, já ri à gargalhada, já amei, amo e pretendo continuar a amar. E não podemos ter medo dos desafios do futuro, há sempre algo mais para além da porta que se abre. A vida é assim.




I feel part of the universe open up to meet me
My emotion so submerged, broken down to kneel in
Once listening, the voices they came
Had to somehow greet myself, read myself
Heard vibrations within my cells, in my cells
Singing, "Ah-la-ah-ah, ah-la-ah-ah"

My love is safe for the universe
See me now, I'm bursting
On one planet, so many turns
Different worlds
Singing, "Ah-la-ah-ah, ah-ah-ah-ah, ah"

Fill my heart with discipline
Put there for the teaching
In my head see clouds of stairs
Help me as I'm reaching
The future's paved with better days

Not running from something
I'm running towards the day
Wide awake

A whisper once quiet
Now rising to a scream
Right in me

I'm falling, free falling
Words calling me
Up off my knees

I'm soaring and, darling,
You'll be the one that I can need
Still be free

Our future's paved with better days
terça-feira, 16 de novembro de 2010

FMI

Falamos do FMI como se fosse a salvação da pátria. Saberemos, nós, os portugueses, os que falamos de cor e em vão o que é realmente o FMI? Eu sei pouco, muito pouco...mas sei que é cego, que não olhará aos que mais precisam, que será arrasador...
Seria necessário chegarmos até aqui? Julgo que não.
Julgo que se os portugueses e portuguesas se unissem e tomassem consciência da sua condição de classe enquanto trabalhadores e contribuintes e preservassem os seus direitos e lutassem também pela preservação dos mesmos, e exigissem ao estado as suas obrigações enquanto Estado Social, julgo que não estaríamos neste ponto.
O que é certo é que durante anos e anos colocámos nas mãos de "alguns ilustres iluminados" o futuro do nosso país. Deixámos que decidissem por nós e olhámos para o lado. Com a desculpa de que não valeria a pena porque ninguém é bom, ninguém presta, que são todos iguais. E o futebol é que nos dá alegrias.
Então? Não somos nós os detentores do Voto? Não estará nas nossas mãos mudar "isto"?
Todos os dias e durante anos a fio vimos impávidos e serenos a economia definhar...começou pela agricultura, depois pelas pescas, depois pela industria passando pelo comércio e agora já estamos nos serviços...esta crise não começou agora, já tem anos! Desmantelaram peça a peça a sociedade...estamos nas mãos das grandes multinacionais, somos o rato nas mãos de um grande gato gordo e insaciável.
É pena! mas está na hora de mudar alguma coisa...e pode ser pela nossa consciência e pelo papel que podemos ter no nosso dia a dia e do que queremos dar aos nossos filhos. Se nós sofremos, eles sofrerão mais!
Em tempos alguém lutou por nós e tivemos a Liberdade...entretanto deixamos que a roubem...no futuro quem lutará por nós (portugueses), senão nós?


FMI – José Mário Branco

Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos…
É o internacionalismo monetário!

FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimore do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu ‘attaché-case’ sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem ‘on the rocks’ do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico harakiri
FMI Panegírico pró lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si, palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, celulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Um encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI …

Entretem-te filho, entretem-te,
não desfolhes em vão este malmequer que
bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalte-quer-messe gigantesca,
vem-te bem, bem te vim,
vim na cozinha, vim na casa-de-banho,
vim-me no Politeama, vim-me no Águia D’ouro, vim-me em toda a parte,
vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão,
olha os pombinhos pneumáticos como te arrulham por esses cartazes fora,
olha a música no coração da Indira Gandhi,
olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d’olho,
o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho?
nós somos um povo de respeitinho muito lindo,
saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho?

Consolida filho, consolida,
enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde.

Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo,
o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos,
com’ò Astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é?
Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar,
para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta desestabilização filha-da-puta, não é filho?
Pois claro!

E estás aí a olhar para mim, estás aí a ver-me dar 33 voltinhas por minuto,
pagaste o teu bilhete,
pagaste o teu imposto de transacção
e estás a pensar lá com os teus zodíacos: “Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é?” né filho?

Pois não é verdade que tu és um herói desde que nasceste?
A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote!
Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho?
Onde está o teu Extremo Oriente, filho?
Aniki-bé-bé, aniki-bó-bó, tu és Sepúlveda, tu és Adamastor,
pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida!

Entretem-te filho, entretem-te!
Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho,
trabalhinho, porreirinho da Silva,
e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?

A-one, a-two, a-one-two-three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI …

Camòniú sanòvabiche! Camóne beibi a ver se me comes!
Camóne Luís Vaz, amanda-lhe co’os decassílabos que eles já vão saber o que é meterem-se com uma nação de poetas!
E zás! enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares,
zás! enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal,
zás! enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro,
zás! enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros,
zás! enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer
e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen,
ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu,
um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho?
Pois, irreversível, pois claro, irreversívelzinho,
pluralismo a dar com um pau,
nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho?
Olha que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá,
é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é?

Preocupações, crises políticas pá?
A culpa é dos partidos pá!
Esta merda dos partidos é que divide a malta pá,
pois pá, é só paleio pá, o pessoal não quer é trabalhar pá!
Razão tem o Jaime Neves pá!
(Olha deixaste cair as chaves do carro!)
Pois pá!
(Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?)
É pá, deixa-te disso, não desestabilizes pá!
Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata.
Uma porra pá, um autêntico desastre o 25 de Abril,
esta confusão pá,
a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa…
Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carago,
mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah?
Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah?
Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah?
Meia dúzia de líricos, pá,
meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá,
isto é tudo a mesma carneirada!

Oh sr. guarda venha cá – á,
venha ver o que isto é – é,
o barulho que vai aqui – i,
o neto a bater na avó – ó,
deu-lhe um pontapé no cu, né filho?

Tu vais conversando, conversando,
que ao menos agora pode-se falar…
…ou já não se pode?
Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah?
Estás desiludido com as promessas de Abril, né?
As conquistas de Abril!
Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho?
E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, “não é nada comigo, não é nada comigo”, né?
E os da frente que se lixem…
E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada,
precisas de paz de consciência,
não andas aqui a brincar, né filho?
Precisas de ter razão,
precisas de atirar as culpas para cima de alguém
e atiras as culpas para os da frente,
para os do 25 de Abril,
para os do 28 de Setembro,
para os do 11 de Março,
para os do 25 de Novembro, para os do…
… que dia é hoje, hã?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI …

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho?
“Todos temos culpas no cartório”, foi isso que te ensinaram, não é verdade?
Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande. Tenho dito.
A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade?
Quer-se dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular!
Somos todos muita bons no fundo, né?
Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né?
Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas,
estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá,
as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole
e o Zé é que se lixa,
cá o pintas é sempre mexilhão…

Eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto,
viva o Porto, viva o Benfica,
Lourosa! Lourosa!
Marrazes! Marrazes!
Fora o arbitro! gatuno! Qual gatuno, qual caralho!

Razão tinha o Tonico Bastos para se entreter, né filho?
Entretem-te, filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs
que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores,
entretem-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais,
entretem-te, filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho,
entretem-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar,
entretem-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes,
entretém-te, filho,
e vai para a cama descansado
que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante,
enquanto tu adormeces a não pensar em nada,
milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos
com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!
Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar da tua vida com o Jimmy Carter,
o Brejnev está a tratar de ti com o João Paulo II,
tudo corre bem,
a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas.
A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias,
ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Muel
que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou!

Vão-te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, estás tu a ver? Que tens tu a ver com isso, não é filho?
Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é?
Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer:
- votas à esquerda moderada nas sindicais,
- votas no centro moderado nas deputais,
- e votas na direita moderada nas presidenciais!
Que mais querem eles? que lhes ofereças a Europa no natal?!
Era o que faltava!

É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes?
toma, para safado, safado e meio, né filho? nem para a frente nem para trás!
e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né?
Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega.

Entretem-te meu anjinho, entretem-te,
que eles são inteligentes,
eles ajudam,
eles emprestam,
eles decidem por ti,
decidem tudo por ti:
- se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia,
- se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão,
descansa que eles tratam disso,
- se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou se hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!

Descansa, não penses em mais nada,
que até neste país de pelintras se acha normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar!

Descontrai baby, come on descontrai,
afinfa-lhe o Bruce Lee, afinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o horoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa
e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas!

Piramiza filho, piramiza,
antes que os chatos fujam todos para o Egipto,
que assim é que tu te fazes um homenzinho
e até já pagas multa se não fores ao recenseamento.
Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá!

Dá-lhe no Travolta,
dá-lhe no discossáunde,
dá-lhe no pop-chula,
pop-chula pop-chula,
yeah yeah, jo-ta-pi-men-ta-for-e-ver!

Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti!
Não te chega para o bife? – antes no talho do que na farmácia!
Não te chega para a farmácia? – antes na farmácia do que no tribunal!
Não te chega para o tribunal? – antes a multa do que a morte!
Não te chega para o cangalheiro? – antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir,
cabrões de vindouros!

Hã? Sempre a merda do futuro! E eu que me quilhe!
Pois, pá!
Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu hã?
Que é que eu ando aqui a fazer?
Digam lá! e eu? José Mário Branco, 37 anos,
isto é que é uma porra!
anda aqui um gajo cheio de boas intenções,
a pregar aos peixinhos,
a arriscar o pêlo,
e depois?
É só porrada e mal-viver, é?
“O menino é mal criado”, “o menino é pequeno-burguês”, “o menino pertence a uma classe sem futuro histórico”…

Eu sou parvo ou quê?
Quero ser feliz, porra,
quero ser feliz agora,
que se foda o futuro,
que se foda o progresso,
mais vale só do que mal acompanhado!

Vá: mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!

Deixem-me em paz, porra,
deixem-me em paz e sossego,
não me emprenhem mais pelos ouvidos, caralho,
não há paciência, não há paciência,
deixem-me em paz caralho,
saiam daqui,
deixem-me sozinho só um minuto,
vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta!

Deixem-me sozinho, filhos da puta,
deixem só um bocadinho,
deixem-me só para sempre,
tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega,
sossego porra, silêncio porra,
deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só,
deixem-me morrer descansado.

Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado,
eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto,
eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa,
deixem-me só porra!
rua!
larguem-me!
desòpila o fígado,
arreda!
t’arrenego Satanás!
filhos da puta!

Eu quero morrer sozinho ouviram?
Eu quero morrer,
eu quero que se foda o FMI,
eu quero lá saber do FMI,
eu quero que o FMI se foda,
eu quero lá saber que o FMI me foda a mim,
eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se ele tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI,
o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões,
o FMI não existe,
o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma,
o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio,
rua!
desandem daqui para fora!
a culpa é vossa!
a culpa é vossa!
a culpa é vossa!
a culpa é vossa!
a culpa é vossa!
a culpa é vossa!

oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe…

(…)
Mãe, eu quero ficar sozinho…
Mãe, não quero pensar mais…
Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer,
ir-me embora, sem sequer ter de me ir embora.
Mãe, por favor!
Tudo menos a casa em vez de mim,
útero maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e me encontrar fugindo…
de quê mãe?

Diz, são coisas que se me perguntem?

Não pode haver razão para tanto sofrimento.

E se inventássemos o mar de volta?
E se inventássemos partir, para regressar?
Partir, e aí, nessa viajem, ressuscitar da morte às arrecuas que me deste.
Partida para ganhar,
partida de acordar, abrir os olhos,
numa ânsia colectiva de tudo fecundar,
terra, mar, mãe…

Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto,
lembrar – nota a nota – o canto das sereias,
lembrar o “depois do adeus”,
e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal,
lembrar cada lágrima,
cada abraço,
cada morte,
cada traição,
partir aqui,
com a ciência toda do passado,
partir, aqui, para ficar…

Assim mesmo,
como entrevi um dia,
a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila,
o azul dos operários da Lisnave a desfilar,
gritando ódio apenas ao vazio,
exército de amor e capacetes.

Assim mesmo, na Praça de Londres, o soldado lhes falou:
- Olá camaradas, somos trabalhadores, e eles não conseguiram fazer-nos esquecer; aqui está a minha arma para vos servir.

Assim mesmo,
por trás das colinas onde o verde está à espera,
se levantam antiquíssimos rumores,
as festas e os suores,
os bombos de Lavacolhos,
assim mesmo senti um dia,
a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila,
o bater inexorável dos corações produtores, os tambores.
- De quem é o carvalhal?
- É nosso!

Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso.
Neste cais está arrimado o barco-sonho em que voltei.
Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena.

Diz lá: valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe.
No fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco.
Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos,
o meu canto e a palavra.
O meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram.
A minha arte é estar aqui convosco
e ser-vos alimento e companhia
na viagem para estar aqui
de vez.

Sou português,
pequeno-burguês de origem,
filho de professores primários,
artista de variedades,
compositor popular,
aprendiz de feiticeiro.
Faltam-me dentes.

Sou o Zé Mário Branco,
37 anos, do Porto,
muito mais vivo que morto.

Contai com isto de mim
para cantar e para o resto.

Este texto encontra-se n'O Arrastão.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Reflexão

Existem situações com as quais convivemos diariamente que por mais que as queiramos tornar quotidianas, nem sempre serão fáceis de as encarar dessa forma. Aprendemos então a conviver com elas. Fazem e farão parte das nossas vidas "harmoniosamente" numa relação de causa/efeito nem sempre fácil de contornar. Para que este convívio seja "harmonioso" e ultrapassável deveremos de encontrar dentro de nós alguma disponibilidade emocional e uma grande dose de humildade e maturidade (assim do nosso tamanho), para que seja tolerável.
Mas existe o factor principal. Ser humano. E nesta condição em que todos, e de igual forma, temos fraquezas e fragilidades, medos e fantasmas que nos assaltam durante o sono, a tolerência de ambos os lados é de uma importância decisiva. Nas relações humanas, o Amor é a base para que cresçam e se fortaleçam, mas não devemos exigir aos outros, o que seria intolerável e impensável para nós próprios. Errar é humano, desculpável e compreensível até. Mas viver constantemente no fio da navalha, é inconsequência e irreflexão...
quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mensagem

Vivemos dias difíceis. Trazemos a vida nos braços, o trabalho nas mãos e a angústia do dia a dia no peito. Os problemas diários, o cuidar dos filhos, as contas, o dinheiro que não chega, a instabilidade do trabalho, a pressão social, a crise que toca a todos. Tudo isto nos esgota, torna-nos rabugentos, céticos, revoltados.

Sem esquecer tudo isto, devemos olhar para o lado bom do que ainda resiste.
Reaprender a tirar o valor das pequenas coisas, aquelas que nos são dadas de graça e sem esforço, aquelas que estão junto de nós. Falo dos amigos verdadeiros, aqueles que nos ouvem e nos ajudam nos momentos difíceis. Falo do abraço dos nossos filhos, do carinho cândido e sincero que nos dão. Falo dos companheiros, dos amores, dos que se amam e juntos vencem etapas, umas após outras aprendendo e reaprendendo a viver a construir e a partilhar.
É importante "pararmos" um pouco.
Respirar fundo e recordar o olhar da pessoa que está ao nosso lado. Recordar-lhe o rosto, o som da voz, o toque da pele, o sorriso, as gargalhadas. É preciso.
Visitar lugares que nos são especiais, esperar por um pôr do sol, olhar para as estrelas, ouvir a chuva ir ver o mar. É preciso.
Estar junto dos que se gosta, conviver, saber ouvir, ajudar, dar carinho e amizade, abraçar, ser solidário. É preciso.
Tornarmos-nos fortes criando laços, criando bases e pilares que nos sustentem, valores fulcrais como os da amizade e família, do conhecimento e da partilha. É preciso.
A sociedade cada vez mais consumista e selvagem, apela-nos para a importância dos valores materiais. Afinal são só coisas. Coisas que nos ajudam por vezes a preencher um cantinho do nosso ego, mas é só. Não são assim tão importantes e nem sempre é preciso.
O importante é sabermos que não estamos sós, que há alguém que nos estima e espera por nós, que nos dá a mão e nos abraça em dias escuros e em dias de sol sempre que uma lágrima cai ou sempre que algo nos preocupa. O importante é estarmos sãos e saudáveis para viver a vida em pleno disfrutando dos pequenos prazeres que por vezes nos dá. Viver um dia de cada vez e aproveitá-lo ao máximo sorvendo cada momento bom e aprendendo com cada momento menos bom.
O Amanhã vive no Livro da Vida, que como me diz alguém detentor de palavras sábias "é um livro fechado", por isso...Carpe Diem!



domingo, 17 de outubro de 2010

Retrato de uma população...do Mundo


Primeiro levaram os comunistas, Mas eu não me importei Porque não era nada comigo. Em seguida levaram alguns operários, Mas a mim não me afectou ...Porque eu não sou operário. Depois prenderam os sindicalistas, Mas eu não me incomodei Porque nunca fui sindicalista. Logo a seguir chegou a vez De alguns padres, mas como Nunca fui religioso, também não liguei. Agora levaram-me a mim E quando percebi, Já era tarde.

Bertolt Brecht


quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Um poema de Bertolt Brecht
quinta-feira, 15 de julho de 2010

QUE ESCÂNDALO!!

Com o preço dos bilhetes e os contratos publicitários que fazem daquilo um banho de marcas ACHO INADMISSÍVEL » "A organização do Rock in Rio foi isentada das taxas municipais em todas as suas edições em Lisboa, no Parque da Bela Vista (2004, 2006, 2008 e 2010). A proposta levada hoje à assembleia pelo presidente da Câmara, António Costa (...) apenas o PSD e o PS votaram favoravelmente a proposta. O CDS absteve-se e o BE, PCP, PEV, PPM, PPM e quatro independentes eleitos na lista do PS votaram contra." COM ISTO A CÂMARA DE LISBOA DEIXARÁ DE RECEBER 3 MILHÕES DE EUROS!!!

quarta-feira, 23 de junho de 2010
"Cegos. O aprendiz pensou: "Estamos cegos", e sentou-se a escrever o Ensaio sobre a Cegueira para recordar a quem o viesse a ler que usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida, que a dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo, que a mentira universal tomou o lugar das verdades plurais, que o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito que devia ao seu semelhante. "

Discurso do laureado José Saramago | Prémio Nobel da Literatura em 1998
terça-feira, 1 de junho de 2010

Tenho cinco reis...

Tenho cinco reis

Tenho um alguidar

Tenho um macaquinho

De pernas para o ar

Quando me levanto

Tiro-lhe o boné

Aperto-lhe a mão

Olari-ló-lé

MDC
quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em resposta a "O cobrador das quotas do Alverca"

Pois é, caro Rodrigo...
O associativismo tem destas vicissitudes, é levado a cabo por pessoas que, depois dos seus empregos e das lidas da casa, rumam às colectividades para dar um contributo para uma sociedade melhor.
Quem nelas contribui compreende as dificuldades, ajuda a ultrapassá-las e cresce por dentro como ser humano social e interventivo e por fora, porque se alia a outras pessoas, estabelecendo relações de amizade e cooperação que desenvolvem o sentido cívico.
Não sei se alguma vez experimentou participar activamente numa associação, constato no entanto, que perspectiva formas de funcionar diferentes, eventualmente mais eficazes... Pois então, proponho que não se limite a criticar, experimente ir mais longe, envolva-se numa ou mais associações e contribua activamente. Aposto que vai ficar surpreendido pela positiva com a generosidade e o esforço dos voluntários que encontrar.

Esta foi a minha resposta a "O cobrador das quotas do Alverca" de Rodrido Bentes Camacho publicado n'O MIRANTE ONLINE a 27.Mai'10.
Eu discordo em absoluto e acho uma medida claramente anti-democrática!
Mais, acho incrível como é que se faz uma proposta destas sem a acompanhar de medidas que garantissem a representatividade de mais partidos e ideias diferentes das do "centrão" que nos governa (e mal) há mais de 30 anos!
Devemos exigir sim, que os deputados representem efectivamente os objectivos e aspirações dos cidadãos que neles depositaram essa tarefa através do voto... E se somos quase 11 milhões, bem que deles e do seu trabalho precisamos!
O sistema em que vivemos baseia-se na DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, e esta petição pretende diminui-la quantitativamente... Eu penso que só aumentando qualitativamente, ou seja, caminhando para a DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, poderemos melhorar.
Sendo assim, situo-me exactamente no lado oposto à ideia que esta petição defende.
Não posso portanto desejar boa sorte, nem sucesso nesta pretensão.
Continuarei a desejar e a procurar construir uma sociedade melhor, mas não creio que esse seja de todo, o caminho.
sábado, 8 de maio de 2010

Canção do Sal

Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar

Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar

Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar

Voz de Elis Regina
Poema de Milton Nascimento

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Alfonsina Y El Mar

Alfonsina Y El Mar

Por la blanda arena que lame el mar
su pequeña huella no vuelve más
Un sendero sólo de pena y silencio
llegó hasta el agua profunda
Un sendero sólo de penas mudas
llegó hasta la espuma

Sabe Dios qué angustia te acompañó
qué dolores viejos calló tu voz
Para recostarte arrullada
en el canto de las caracolas marinas
La canción que canta en el fondo
oscuro del mar la caracola

Te vas Alfonsina con tu soledad
¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?
Una voz antigua de viento y de sal
te requiebra el alma y la está llevando
Y te vas hacia allá como en sueños
dormida, Alfonsina, vestida de mar

Cinco sirenitas te llevarán
por caminos de algas y de coral
Y fosforescentes caballos marinos
harán una ronda a tu lado
Y los habitantes del agua van a jugar
pronto a tu lado

Bájame la lámpara un poco más
déjame que duerma, nodriza, en paz
Y si llama él, no le digas que estoy
dile que Alfonsina no vuelve
y si llama él, no le digas nunca que estoy
Di que me he ido

Te vas Alfonsina con tu soledad
¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?
Una voz antigua de viento y de sal
te requiebra el alma y la está llevando
Y te vas hacia allá como en sueños
dormida, Alfonsina, vestida de mar

Este poema argentino é uma homenagem à poetisa Alfonsina Storni, e foi dado a conhecer ao mundo pela voz de Mercedes Sosa, também conhecida por "La negra Sosa", cantora e representante da música tradicional argentina.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Urgentemente!

Urgentemente! É urgente o Amor, É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros, e a luz impura até doer. É urgente o amor, É urgente permanecer.
poema de Eugénio de Andrade
Imagem de Gustav Klimt, DANAE
domingo, 2 de maio de 2010

Poema à Mãe

No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe! Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos! Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais! Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura! Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos... Mas tu esqueceste muita coisa! Esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração ficou enorme, mãe! Olha - queres ouvir-me? -, às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos; ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura; ainda oiço a tua voz: "Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..." Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu... Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas...

poema de Eugénio de Andrade
imagem de Gustav Klimt

sábado, 1 de maio de 2010

Ao 1.º de Maio

Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

Bertolt Brecht

quinta-feira, 29 de abril de 2010

...leituras...

"Um dia que já lá vai D. João o Segundo, nosso rei, perfeito de cognome e a meu ver humorista perfeito, deu a certo fidalgo uma ilha imaginária, diga-me você se sabe doutro país onde pudesse ter acontecido uma história como esta, E o fidalgo, que fez o fidalgo, foi ao mar à procura dela, gostaria bem que me dissessem como se pode encontrar uma ilha imaginária. A tanto não chega a minha ciência, mas esta outra ilha, a ibérica, que era península e deixou de o ser, vejo-a eu como se, com humor igual, tivesse decidido meter-se ao mar à procura dos homens imaginários."
em "Jangada de Pedra" de José Saramago
terça-feira, 27 de abril de 2010

POBRES DOS NOSSOS RICOS, por Mia Couto

A maior desgraça de uma nação pobre é que
em vez de produzir
riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem pos
sui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e
dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem d
inheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a
essa mesma desordem (...) MiaCouto

(uma sugestão do amigo Eduardo Dores)
as imagens são de Sebastião Salgado

Mia Couto ao escrever estas palavras referia-se à realidade africana. No entanto, nas nossas sociedades ditas industrializadas, o flagelo da pobreza e da corrupção é igualmente visivel e até "aceitável" ao ponto de a encararmos como "normal". Mas não o é.
quinta-feira, 22 de abril de 2010

Revolução

A Revolução faz 36 anos... e esta é a minha homenagem aos que lutaram em clandestinidade, abdicaram da sua identidade, àqueles que sofreram a tortura às mãos da pide, aos que tombaram, aos que nunca desistiram do ideal comum, o de LIBERDADE!
Pelas palavras de Sophia de Mello Breyner:

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Relembrar Abril, é falar de Revolução!

A Revolução é contínua, pela mudança de mentalidades e pela adequação aos tempos, nunca esquecendo os nossos direitos nem os nossos deveres.
Revolução é a procura constante de uma vida melhor e com qualidade, é transformar a sociedade, numa sociedade mais humanizada, é promover um futuro melhor para os nossos filhos.

25 DE ABRIL SEMPRE!